Rui Sérgio de Albuquerque Silva / Lúcia Maria da Silva Lopes
Rui Sérgio de Albuquerque Silva nasceu em Moçambique em 1957. Fez o liceu em Lourenço Marques, hoje Maputo, e na África do Sul. Veio com 20 anos para Portugal. Tentou acabar os seus estudos trabalhando à noite como segurança. Como trabalhava por turnos cedo interrompeu o liceu. O gosto pela fotografia começou aos 12 anos de idade quando recebeu do Pai a sua primeira máquina fotográfica. Na família, o tio-avô, fotógrafo amador, transmitiu-lhe o gosto pela fotografia para além dos conhecimentos.
De segurança passou para empregado de balcão numa loja de fotografia. Aos trinta surgiu a oportunidade de ir trabalhar para a Noruega. A vontade de conhecer novos lugares e a necessidade de trabalhar levou-o até à Rússia, na Sibéria.
Dez anos mais tarde regressa a Portugal e volta a trabalhar como segurança, ao mesmo tempo que tomava conta de uma tia, senhora acamada de 92 anos.
Voltou a Moçambique após o falecimento da tia, onde geriu um pequeno hotel.
De volta a Portugal, alugou um quarto e tirou um curso de geriatria, onde recebia o suficiente para fazer face às suas despesas. Quando acabou o curso, não conseguiu emprego e cedo acabou por viver na rua.
Com a ajuda de amigos e da CASA, conseguiu sobreviver. Três anos mais tarde, foi-lhe atribuída uma habitação social onde vive até hoje com os seus 2 gatos, também eles resgatados da rua. A máquina fotográfica, hoje já muito velhinha, acompanhou-o sempre neste diversificado percurso. Desde Moçambique à Rússia, passando pela Noruega, Londres e Afica do Sul até Portugal, retratou diferentes culturas e intensos momentos. A vida na rua endureceu-o mas não apagou o seu lado humano e carinhoso.
A vida proporcionou momentos muito alegres e bons, mas também madrastos que não gosta de recordar.
O Rui gosta de fotografia, cinema e desenho. Foi a exposições. É um autodidata, aprendeu e inspirou-se com outros fotógrafos, mas só através de revistas ou exposições. Fotografa diferentes temas mas a rua é o seu preferido.
Hoje um homem renascido vive com os seus 2 gatos, tem amigos com quem convive, mas maior parte do seu tempo passa com a sua velha amiga, a máquina fotográfica.
Aspira vir a ser um fotógrafo profissional, fazer foto jornalismo e até mesmo ser fotógrafo de guerra. O que o inspira são as pessoas. Não sai à rua sem a sua máquina fotográfica. Frank Capra é, para o Rui, uma referência.
Para ajudar a ultrapassar as dificuldades ao longo da vida – especialmente enquanto viveu na rua – e como escape, fotografou, alimentando sempre o seu sonho. É o sonho que comanda a vida de Rui Silva.
“A CASA já ajuda o Rui há sensivelmente quatro anos, sendo que ele sempre foi muito colaborativo, e mesmo com todas as dificuldades pelas quais passou, nunca se deixou ir abaixo. Conseguiu sempre superar todos os obstáculos com um sorriso na cara, com muita tolerância e alegria. Foi-lhe atribuído uma casa, há sensivelmente um ano. Desde então, tem-se mostrado uma pessoa responsável e bastante autónomo. Conseguindo fazer face às despesas e necessidades que lhe tem surgido. Tornou-se uma boa referência, e um exemplo a seguir para muitos que se encontram em situações semelhantes à que ele passou.” CASA – Centro de Apoio ao Sem Abrigo | Delegação de Cascais