André Tavares

Nascido em Cabo Verde em 1982, André chega a Portugal com 2 anos de idade, quando os pais decidiram emigrar à procura de melhores condições de vida.
O pai de André chega a Portugal logo a seguir ao 25 de Abril, onde ingressou na PSP, cumprindo aí a carreira. Regressou mais tarde a Cabo Verde onde casou e teve o primeiro filho, tratando anos mais tarde da documentação para poderem vir para Portugal.
Desde cedo construiram residência no Bairro 6 de maio, local onde se aglomerava grande parte dos imigrantes caboverdianos, e outros das antigas colónias portuguesas. Nessa altura apenas o pai de André trabalhava, por opção a mãe era doméstica, preocupando-se sobretudo com a educação dos filhos.
Por viverem num bairro problemático teve uma educação muito rigorosa, nao dando o pai muita margem para andar muito tempo a brincar na rua como era normal nas crianças da época. Assim, na altura de entrar para a escola, André já sabia ler e escrever, aprendendo com o pai ainda pela chamada “antiga cartilha”. Segue então os estudos, de forma normal, sempre se destacando com boas notas, contrariando assim o normal percurso dos jovens do bairro onde reside, onde muitos abandonavam a escola muito cedo.
Por os pais serem imigrantes, e muitos terem trabalho precário, como a construção civil e trabalharem nas limpezas, os pais destes jovens passavam a maior parte do dia fora de casa, pelo que a educação dos filhos era um pouco negligenciada. Sendo o Bairro 6 de Maio um bairro de lata, cedo foram aparecendo vários problemas sociais, como por exemplo a criminalidade e o aparecimento do tráfico de droga. Ainda assim, mesmo neste ambiente e com uma estrutura familiar estável, André conseguiu seguir os estudos de forma mais ou menos equilibrada. Todo o seu percurso académico foi feito nas escolas da cidade da Amadora, conseguindo depois atingir a formação superior em Gestão de Empresas pelo ISEG.
Desde cedo participou em grupos de debates de jovens dinamizados pelo Centro Social 6 de Maio, onde semanalmente se reuniam jovens para falar sobre problemas da sociedade onde viviam. André passou a dinamizar um destes grupos através do voluntariado, deu explicações escolares aos mais pequenos, procurando de alguma forma passar o testemunho à geração seguinte.
A escrita e a fotografia, foram formas que encontrou para melhor se expressar, colocando sobretudo um olhar crítico sobre a sociedade que o rodeia, tentando aumentar a consciencialização de todos os que têm acesso ao seu trabalho, de que apesar da vivência neste género de bairros é possivel destacar-se pela diferenca.
Antes da “Mostra de Autores Desconhecidos”, nunca tinha partilhado com o público os seus poemas e trabalho, apenas a grupos mais restritos de amigos e familiares. Com o apoio do Centro Social 6 de Maio e da IGAC surge a oportunidade de dar a conhecer os seus textos.
Um dos seus sonhos é poder um dia trabalhar numa área onde possa estar em contacto com comunidades de risco, tentando motivar outros a vingar pessoal e profissionalmente. Também um dia, quem sabe, poder retratar todas essas histórias de sucesso num livro de sua autoria.
André gosta de encarar o mundo de uma forma descomplexada, tal como o mesmo afirma. Ver, ouvir, aprender e adaptar, são os pontos que tenta seguir tentando sobretudo usar a sua visão criativa para deixar um mundo melhor.